27 de maio de 2014



Tudo é manso lá fora:
O canto do canário,
as folhas secas estalando no ciscar da ave.
Na sombra larga da mangueira,
o cão dorme aos pés da mulher
de ar pensante,que vagarosamente,
debulha o milho por sobre o avental azul.
Há um murmúrio naquele lábio quase triste,
de quem nunca provou das travessias:

(no final daquela curva,
 a araucária  plantada,
fincou o desgosto de um desvio.)

O menino está no berço.
No centro da mesa,sopa e pão.

A mulher debulha as horas.
Debulha o milho.
A inexatidão.


Patrícia Vicensotti





13 de março de 2014

❝ Quando é saudade,a música pequena nos canta uma memória toda.Um detalhe despretensioso no dia,esboça imediatamente no semblante aquela urgência: nuances de eternos instantes daquele canto específico em nosso peito.Quando é saudade,os ramos crescem por nossos muros: o tempo se alarga e caminha sem olhar em volta – enquanto nada vem.Quando é saudade,cada alvorecer é fome:porque saudade tem forma e tem nome.Tem a cor da tinta que risca os dias no calendário.Som vago do sopro solitário,sobre a vela imaginária no último aniversário.Quando é saudade,ainda que ponteada pela cética do realismo e da impossibilidade,paira-nos uma sombra de ternura que se acumula e não se basta em lugar algum.Em ninguém.Nada nos é preenchível e mais necessário,além da presença:porque alívio se chama abraço.Porque saudade,é esse amor que repousa tênue e descomplicado, refletindo sempre,por sobre a água mais pura dos nossos olhos. ❞

Patrícia Vicensotti





15 de abril de 2013

Um lançar-se

Lançar-se ao profundo e desarmar-se. É ter sobre si a imersão que comprime todas as outras vãs certezas. É o que descompassa o peito. Lampeja o indecifrável. Um incitar-se pelo desconhecido. Porque penso na dimensão. No inexplorável. Na ânsia que me remete a um novo fôlego. Sinto o peso dos ombros. A angústia de querer absorver o mundo todo num único gole me afronta. Piso fundo na riqueza que vem do "simples", palavra bonita que embala a gente numa vista para o novo. E me envolvo. E lá do fundo, tão desarmada, trago á margem um sentido límpido, vivo, pulsante, para que não mais essa carne contrita, essa vaga perspectiva. Não mais essas vestes incontidas. Não o que me era intransponível. Trago agora o sutil. O calmo.O imperceptível. E que entendam essa minha ousadia: é aqui onde me lavo. Onde disponho minhas amarras. De onde vim cuspida na incumbência de decifrar a vida em um olhar profundo por dentro. Rabisco-me através das purezas da vida, tais como: sentir além do controle e amar além dos limites. Revogo-me nas calmarias das águas claras. Por dentro dos olhos, onde me umedeço nas retinas e me vejo inteira. Recheada de simplicidade mútua para com todos a minha volta. Meu corpo se traveste de luz. Retoma a forma pueril que emplaca por entre minha carne e meu espirito. E minha pele se veste desta inocente dissertação, para mais tarde, após refletir a doçura por todos os poros, me rasgar e voltar a lançar-me dentro de mim.


Patrícia Vicensotti e Ju Fuzetto








13 de abril de 2013

Simplicidade....




Simplicidade,meu caro,não é um adereço que compõe:
não é mais uma moldura posta no teu canto de virtudes.
Ela,é aspecto de alma que cintila.E não se veste.

(Patrícia Vicensotti)









12 de abril de 2013

Consternação




Inclinou-se, ao que lhe era posto: tomou a Rosa,trasmudada de sentido ,numa querência inerte, sobre a palidez daquele rosto estendido. Fixou-a nos olhos à busca de um reencontro.De um leve sinal que lhe pudesse sorrir a salvação; a quebra de um muro imposto. Queria acordar o interrompido. Arrancar a Flor do abismo. Da (in)consequência. Falaciosa. Fenecida.

Beijou-a,sem resposta.


|Patrícia Vicensotti




6 de outubro de 2012

Nessa cidade ...


...tem uma rua,

que eu não ouso mais passar...
                               ...
                                  ...



29 de setembro de 2012

Passagem






Estou tentando alguma coisa. Nos lentos passos do quarto á sala, um breve presságio. Som de riso na rua é como badalo de sino, me pedindo pressa. A fenda emperrada da janela, esquecida, vigia minha intensa vontade de que no canto de algum cômodo, morra essa urgência. Que se acumula. E se funde ao pó empreguinado e mal varrido. Lá fora, o frio. No tempo e em mim. Tenho medo desse silêncio; dessa umidez excessiva da vida nos meus olhos. Da fé sendo amputada. Do que assim, venho me tornando. Chega o tempo, em que muitas coisas ao redor, vão se indo. Alcançando outros destinos. E me sinto uma passagem desistida na gaveta. Amarelando sonho.

 

Patty Vicensotti




11 de maio de 2012






(Hoje,sem muito o que dizer...)


















E...



mesmo que eu olhasse por todas as voltas,
e ainda que estivesse só,não seriam vazias.
Tua presença é forte.

Patty V.



21 de abril de 2012

Projeção












Que nada seja igual e nem tão certo.
Quero viver deste desconcerto.
Quero o peso das horas,rompido.
A chama  sendo alimentada
como luz sagrada - teu infinito.
Quero desprender tua vida
e soltar a minha até que
alcance - a direção.
Ser oásis marejando á tua íris
desfigurando a seca volúpia...
Quero,como te quero - insolúvel.
Recalcando horizontes,
despindo a inconstância da estória,
para que a nossa história concretize. 



Patty Vicensotti

 



 



















Tua amizade é parte da delicadeza de Deus.


Patty Vicensotti



( É sim! )

13 de março de 2012





  Eu escrevo,porque busco a resposta
  do instante que emudece.

  Patty Vicensotti

9 de março de 2012

Mulher



....é  o gosto 
frutificado
no amargor 
do mundo.

Patty Vicensotti




Eu,mulher,enredo.

Meço,calculo,alcanço o tempo.

Me lanço,de todos os lados.

Perduro,num olhar.

Me rendo.

Me reivento,
sendo aquilo 
que mesma escrevo.
Felina ou fada.
Sentimento.
Poder que gera o mundo.
Amor,e mais nada.

Patty Vicensotti



( É ela...)


Mistério
em desejo.
Coragem.
E no medo,fé.
Flor da pele.
Rosa e espinho.
Instinto.
Eterna.
M u l h e r


Patty Vicensotti




(...) Meninas são tão mulheres....


Menina que virou mulher,
amadurecendo os sonhos,
sem perder a fé.

Patty Vicensotti



(A todas nós, mulheres, um brinde.Merecemos!)
Meu beijo e carinho a todas as amigas!
E viva o nosso dia :)


1 de fevereiro de 2012



Ainda existe!
Sim: a cura.
O amor é a candura
que reaviva as
dores obscuras.
Há mal que amar
não reconstrua?

 
Patty Vicensotti

8 de janeiro de 2012

Patiently





O tempo continua indo...
Mas aqui dentro,as coisas estão iguais.Tenho pensado nas inúmeras formas de te falar,sem que o que eu diga esteja preso no que foi,ou que minha insegurança disperse aquele momento,ali...(Quero que tudo aconteça naturalmente).Quando você chegar,vou comentar a saudade,beijar teu rosto de leve e sentir teu cheiro.E sem que a gente diga,a lembrança percorrerá sobre tudo o que trocamos a distância,(carinhos em noites de ausência).Só quero poder estar ao teu lado,sem que nada seja tão preciso.Mas se teu olhar sobre mim silênciar aquele instante;se o calor do teu desejo entender o meu,vou entregar um sorriso que é só teu.E ainda que nada mude.Mesmo que não  seja o tempo,não desisto da certeza que tenho mantido: Você é meu complemento.Sempre.Será.Tem sido.

Patty Vicensotti





Inspirado:
( É lindo saber que ainda existe
aquela história de amor sincera,
onde um olhar vale toda uma espera.... )

5 de janeiro de 2012




Felicidade é o entrelaçar-se na circunstância.
De um pequeno tornar: a recompensa.


Patty Vicensotti


30 de outubro de 2011

De costas ao superficial ...




Aqui,o que permanece,é o que intensifica:
- A força a qual se adentra e fica.



Patty Vicensotti




E tenho assim te amado:
descompassado e exagerado.
E porque á mim assim tem sido,
gosto então só sinto
ao que te sou.
Meu mundo,menino,
por vós tomei e te dou.

Patty Vicensotti


Quisera,voltar a ser criança.
Correr pelo terraço,
ser rei,cavaleiro,
por chapéu de mago.

Quem dera os sonhos encantados;
Principes e Princesas,
com giz de cera desenhados.
Um esperar com gosto de amanhã.

Pudera,voltar áquele passado,
suspiros,broas e melado.
bailarinas de papel machê.

Infância...
Hoje,a lamparina reacende.
Tem cantiga de roda,bala de goma,
estrela cadente...

E uma lágrima vertente,
de saudade.
Na vontade de rever-te.


Patty Vicensotti



28 de setembro de 2011

Falta



A gente faz que entende.
Que encara o desapego;
subestima com naturalidade.
A gente até tenta,
dar as costas ao passado;
conviver com o que ficou.
Mas bem lá fundo,
tudo ainda se move...
Tem dias que o que mais se quer,
é ouvir que nada mudou.


Patty Vicensotti

 

14 de setembro de 2011

Ama tua rosa .



O inverno guarda tuas rosas.

Sê-la quando perece:
Sem tato.
Sem cheiro.
Sem vestes.
Ama tua rosa.
Sem visão.
Sem sentido.
Sem fato.


Se tão fácil fosse sobre teus espinhos,
não veria o explendor do teu esforço.



Patty Vicensotti